Ser mulher é sofrer de misoginia todos os dias


A noticia da última semana sobre o juiz que achou por bem diminuir a pena de um homem, juntamente com o amante da sua esposa que a violentaram com um bastão de pregos porque ela foi infiel e, como tal, fez com que o marido sofresse humilhação, fez-me pensar...
O caso é de tal forma sórdido que chega a ser surreal!
O que me parece é que estamos todos a regredir e no mau sentido. Considero-me uma mulher moderna em algumas coisas, noutras sou muito tradicional. Gosto pouco de histerismos e menos ainda de mulheres oferecidas. Sou contra o adultério, pois se somos tão livres agora, também o somos para terminar uma relação que não nos satisfaz e só depois fazer o que bem entender da vida. Rejo-me pelo "não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti". É uma questão de respeito: próprio e pelos outros.
Se achei errado o que a mulher fez? Sim. Se merecia ser sovada pelo marido e pelo amante de forma tão violenta? Não. E que raio de marido é este que se junta ao amante para se vingar? Um conas, um bota de elástico. Só por isso já mereceu o par de chifres que levou!
Que vivemos num país onde se celebra a mediocridade já todos sabemos mas, menos pessoal, muito menos.
Isto para dizer o quê? Que ser mulher é, de facto, difícil. Todos os dias temos de gramar com cenas machistas que se tornaram tão banais que já nem são questionadas. Só que essas situações/cenas são tão importantes de reclamar como os actos mais vis e hediondos praticados contra mulheres e que acontecem todos os dias, em algum lugar deste mundo imenso.
Hoje vou apontar algumas das situações que vivo diariamente para recordar a todas que estas cenas que já tomamos como normais, não são.


1. Piropos
Andar na rua é ouvir, diariamente, homens a assobiar e a mandar bocas ou a apitar. Confesso que algumas têm piada e até me fazem rir, mas a maioria é de uma ordinarice que ninguém merece, de uma falta de respeito atroz.
A atitude recorrente é de baixar a cabeça e caminhar o mais rápido possível quando a vontade é mesmo de ter o poder de desaparecer ou ter força suficiente para lhes dar uns calduços e metê-los na linha.
O que não percebo é o que é que esses homens ganham com isso? Nunca ouvi ninguém dizer que conheceu o amor da sua vida quando ele passou de carro e assobiou!
Uma mulher não é um objecto, é um ser humano e como tal, tem sentimentos. Ouvir um homem a dizer-nos coisas ordinárias não nos faz sentir bem, nem confiantes. Pelo contrário.

2. Trabalho
Este tópico dá pano para mangas, começando na desvalorização no local de trabalho, passando pelo assédio e acabando em casa. Em Portugal, é ainda muito usual acharem que só porque somos mulheres, não temos a mesma aptidão de trabalho que um homem e, como tal, também ganhamos menos. As que têm cargos superiores, certamente "abriram as pernas". Já em casa, não temos o direito de chegar e ir directamente para o sofá, pois alguém instituiu que uma mulher tem de fazer o trabalho doméstico todo e sem reclamar, é um dever. Se pedimos ajuda ao marido, muitas vezes ouvimos que está cansado porque trabalhou muito. E nós não? Saímos todos os dias de casa e ficamos o dia inteiro fora por desporto, é?

3. Conduzir
"Mulher ao volante, perigo constante"!
Porquê? Somos menos capacitadas para conduzir que um homem? Só fomos feitas para conduzir a vassoura e os tachos? Em que livro é que isso está escrito? Não somos nós que conseguimos fazer só uma coisa de cada vez.

4. Sexo
Os homens são gabados pelas suas actividades sexuais, já as mulheres são envergonhadas. Esta é uma tradição tão enraizada que muitas mulheres acham que têm algum problema por sentirem desejo sexual, pois sempre fomos ensinadas a retrair esses impulsos que, na verdade, são naturais em todos os seres.
Sexo não é coisa de homem e nós também não queremos ser congratuladas pelas nossas competências na cama, só não queremos que a nossa reputação seja afectada pelo nosso desempenho na intimidade. Ninguém tem nada a ver com isso.

5. Insistência
Quando dizemos que não, as pessoas têm a mania de insistir até à exaustão. Só porque houve alguém que instituiu que as mulheres não sabem o que querem ou que, muitas vezes, dizem que não mas querem dizer sim, não quer dizer que corresponda à verdade. Quando digo não é não e acabou. Insistirem comigo, só me irrita. Não, não quero mais um cartão de crédito. Não quero um seguro de saúde que dá indemnização aos meus herdeiros directos em caso de morte e não quero gastar uma fortuna em tupperwares que não derretem no microondas.

6. Piadas sobre o período
Se os homens fizessem a mais pequena ideia do que é ter o período, nunca ousariam fazer piadas sobre o assunto. Não é engraçado e não tem piada nenhuma. Só porque há mulheres com dois dedos de testa e não estão para aturar abusos, não quer dizer que tenham mau feitio ou que estejam com o período.
Nós não fazemos piadas acerca do vosso "saco", pois não?

7. Dinheiro
As mulheres gastam mais dinheiro sim, porque precisam de mais coisas. Gastamos mais dinheiro em cosméticos, produtos para o banho e para o cabelo, em roupas e acessórios uma vez que o mercado também é mais direccionado para as mulheres. Só em tampões é uma renda e não é algo que possamos controlar. É extremamente necessário usar soutiens, que são outra fortuna e por aí vai. Mesmo assim, os homens continuam a ganhar mais que as mulheres, embora sejam elas que pagam mais pelas coisas.


Esta semana a imprensa foi inundada com novas histórias de assédio sexual em Hollywood e ontem, em Vila Nova de Gaia, foi encontrado um casal morto dentro de um carro que, alegadamente, o homem decidiu matar a ex-mulher porque ela se fartou dos constantes maus tratos e pediu o divórcio. Neste último caso, o homem  tinha uma pulseira electrónica e mesmo assim, conseguiu deslocar-se além do raio estipulado sem que a policia o tenha travado de cometer o crime. É inconcebível. E não, não é normal.

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