O dia em que deixei de me importar com o que os outros pensam de mim




Não sei o dia exacto, mas foi algures na escola secundária!
Sofri de bullying durante alguns anos porque para os meus coleguinhas, eu era estranha. Não serão todos os adolescentes estranhos?
Quando entrei para a escola secundária era muito inocente e parola. O meu corpo só começou a desenvolver-se aos 15 anos, portanto, antes da transformação natural do crescimento, eu era muito magra, não tinha rabo nem mamas, os meus olhos enormes destacavam-se num rosto pequenino e tinha zero sentido de estilo. Não tinha interesse por rapazes e eles só se interessavam em gozar comigo e em chamar-me nomes. A maioria de animais: gazela, sapo, macaca...
Depois haviam as meninas populares, já cheias de soutiens e decotes e mini saias - tudo aquilo que eu não era e nunca tinha desejado ser.
Ao inicio fiquei desolada, chorei da minha alma e pedi imensas vezes à minha mãe para não ir mais à escola. Eu não entendia a razão para serem tão cruéis comigo, não sabia que há gente cruel só porque sim. Entretanto virei-me para a violência. Sempre que me chamavam nomes, eu andava à porrada. Por fim, e porque andar todos os dias à porrada não dava, fiquei só a observar.
Numas férias de Verão, comecei a ganhar formas e conheci uma rapariga mais velha que me deu umas dicas de estilo e personalidade.
Quando voltei à escola, era uma pessoa totalmente diferente da que saiu para as férias grandes. Passei a ser popular!
Mas ser popular é assim tão importante?
Não vou negar que gostei da transição. Deixei de sofrer de bullying para ser a bully. Era o que eu queria na altura, só que, na verdade, não me identifiquei nessa posição.
E oh, não faz mal.
O que é ser popular?
É alinhar numa padronização de pessoas em que todos se comportam da mesma maneira, falam as mesmas coisas, vestem as mesmas roupas, têm os mesmos gostos e seguem todos o mesmo caminho, como bonecos produzidos em série. Todos têm de fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo, sem qualquer peculiaridade que torna cada individuo único, especial e interessante. E assim, tornamo-nos cidadãos adequados a viver em sociedade.
Qual o sentido de nos adequarmos à sociedade, se nos tornamos em pessoas chatas, deprimentes e vazias? Se permitimos que abafem as nossas vontades e as nossas opiniões? Se deixamos que os outros sejam os protagonistas das nossas vidas?
Se há coisa que é importante para mim, é a minha liberdade - para viver à minha maneira, para ter uma opinião, para não ser só mais uma no meio da multidão. Não tenho medo de conflitos, pois são eles que geram aprendizagem e abrem mentalidades. E sejamos sinceros, não há nada mais interessante do que alguém com uma visão do mundo díspar da nossa.
Ser hipócrita para me sentir incluída? Não, obrigada. Só quando tem mesmo de ser. Ser sincera é tão melhor, mesmo quando não é.  Eu tenho uma voz, tenho os meus gostos e penso pela minha cabeça. Sou eu que assumo as rédeas da minha vida.
Como alguém citou e muito bem: " É preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude."


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2 comentários

  1. Cada vez gosto mais da diferença neste mundo de copy paste.

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    1. É verdade, concordo contigo. Embora seja também, cada vez mais difícil, considero que quem o é, só pode mesmo ser alguém muito especial ;)
      Beijinho

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