A mulher que decidiu trair o marido


A traição conjugal é tão velha como a prostituição. Toda a gente conhece alguém que pula a cerca. Enquanto, antigamente, eram os homens os protagonistas das traições e muitas vezes louvados por serem uns Don Juans, hoje em dia, atrevo-me a dizer que as mulheres traem tanto ou mais que os homens e numa escala bem mais à descarada. Só não vê quem não quer. E, no entanto, continuam a viver a sua vidinha incólumes e cheias de moral e bons costumes. Não é para todas. Hoje conto-vos a história de uma mulher que decidiu trair o marido....


A Maria finalmente cedeu e concordou encontrar-se com o Zé no apartamento dele, mas insistiu em segurança total. Ninguém a poderia ver entrar ou sair do prédio, pois se o marido descobrisse ou sequer desconfiasse.... Zé jurou que ninguém a veria.
- A rua tem pouco movimento e os vizinhos só estão em casa de noite. Não há perigo. Confia em mim.
Combinaram a "Operação Encontro" minuciosamente. Ela diria ao marido que iria ao Marshopping fazer compras e aproveitar para dar uma volta no Ikea. Contando o tempo de ida e volta, eles teriam, na boa, quatro horas inteiras. Ela chegaria ao prédio sozinha, de óculos escuros e lenço na cabeça e subiria ao seu apartamento. Ele estaria lá dentro pronto a recebê-la. Certo? Maria hesitou.
- Ai, meu Deus. O Nel e as crianças.... se alguém descobrir.
Ninguém vai descobrir. Ninguém a vai ver. Terão quatro horas maravilhosas, longe do mundo, dos olhos e das línguas do povo. Maria suspirou e cedeu.
À hora combinada, Maria bateu à porta do apartamento de Zé. Além dos óculos escuros e do lenço na cabeça, trazia a gola do casaco subida e um cachecol a tapar o nariz e a boca. Todos os que se cruzaram com ela na rua se viraram para olhar para aquela mulher tão agasalhada. Ela estava nervosa. "Ai meu Deus! Se o Nel sabe..." Zé acalmou-a, levou-a para o quarto e começaram a tirar a roupa.
Nisto, ouviram um rebuliço no corredor, gritos, berros e correria. Maria arregalou os olhos.
- É o Nel!
- Não pode ser. Calma. Vou ver o que se passa.
Zé seguiu em direcção à entrada, em cuecas, quando começaram a bater violentamente na porta. Hesitou. Não podia ser o marido, era impossível. E aquela barulheira toda, só se ele tivesse trazido os amigos todos com ele. "Vou ser linchado", pensou, "desmembrado e atirado aos cães, um mártir da nova moral". Então, ouviu:
- Abra, é a policia! Abra senão arrombamos a porta!
Zé abriu a porta. Foi lançado contra a parede por uma avalanche de homens armados e aos berros. "Revistem tudo. Vejam na cozinha. Rápido." Zé queria saber do que se tratava. O agente disse que tinham invadido o apartamento do Pedro Dias, que era ao lado do seu, mas ele conseguiu fugir pela área de serviço. Estava ali e eles iam apanhá-lo. Pedro Dias, o bandido mais procurado de Portugal. Desta vez não ia escapar.
Os policias que entraram no quarto, abriram a porta do roupeiro e encontraram Maria, seminua e apavorada.
- Aqui está ele! - gritou um policia antes de se aperceber de que não era o Pedro Dias, mas uma mulher.
Maria saiu a correr do quarto, atravessou o corredor aos gritos sem saber se tapava a cara ou o peito. Entrou na cozinha e caiu nos braços de Pedro Dias. Quando Zé e o agente chegaram à cozinha, Pedro Dias segurava-a pelas costas e tinha uma faca encostada na garganta de Maria.
- Mais um passou e eu mato-a!
O agente fez um gesto aos policias e falou:
- Certo, certo. Não mate a senhora, vamos conversar.
Pedro Dias mandou sair toda a gente, comunicaria com eles através de Maria. Enfiou a cabeça dela pela porta e mandou dizer que exigia um carro para sair dali. Senão Maria morria. Ela gaguejou, não conseguia falar. Zé disse:
- Calma Maria, confia em mim.
Maria conseguiu finalmente transmitir o recado. O agente mandou dizer que providenciaria o carro, mas precisava de tempo. Chegaram fotógrafos e repórteres. A TVI e o Correio da Manhã em peso.
Quando Pedro Dias empurrou a cabeça da Maria para fora novamente, já estavam as câmaras todas prontas a captar o momento.
- E-ele di-diz que espera s-só cinco minutos! - disse Maria, cega com as luzes das câmaras. Um dos repórteres colocou um microfone perto da boca dela. Pedro Dias puxou Maria para dentro. Os repórteres entrevistaram Zé. Quem era a mulher? Uma amiga? Namorada? Amante?
O agente mandou dizer que o carro estava pronto. Pedro Dias saiu da cozinha com um braço em torno da cintura nua de Maria e com a faca no seu pescoço. Se alguém se mexesse, ela morreria.
- Calma Maria, calma. Confia em mim. - dizia Zé com os olhos arregalados.
Pedro Dias desceu com a Maria. As câmaras de televisão seguiram atrás. Na rua havia uma multidão. Um policia ia na frente, afastando os curiosos.
- É o Pedro Dias! É o Pedro Dias. Esse ninguém apanha.
Pedro Dias entrou com Maria no carro. Mandou que o carro arrancasse.
Em casa, as crianças gritaram:
- Papá, olha a mamã na televisão!
Em algum ponto do caminho, Pedro Dias mandou parar o carro. Saiu e puxou Maria através de um matagal, na escuridão.
- Eles nunca me vão apanhar. Nunca. Vou desaparecer.
Largou Maria e disse que ela estava livre, que arranjasse maneira de voltar a casa. Ela assim o fez, só conseguindo chegar no dia seguinte de manhã e pronta para tudo. Merecia tudo o que Nel faria com ela. Na calçada em frente a sua casa, ouviu a vizinha:
- Com que então na televisão hã, Maria?
As crianças vieram a correr:
- Mamã, apareceste na televisão!
E atrás das crianças veio o Nel, orgulhoso e sorridente:
- Na televisão hã? Sim senhora. Parecias a Catarina Furtado!!!!



Obs: Este texto foi escrito antes do Pedro Dias decidir entregar-se às autoridades. Podia ter esperado mais uns dias :p

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4 comentários

  1. ... :) :) :) Está demais :) Mas fiquei feliz pelo Nel ficar orgulhoso da mulher que tem :p

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  2. Adorei o texto, fez-me rir, vou passar a seguir o blogue.
    Gábi

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