Porque é que ainda adoro arranjar-me


Sou uma criança doas anos 80 e 90, altura em que ainda não existiam a TV por cabo, a Internet ou os telemóveis. Parece que foi noutra vida, não é verdade?
Não tinha a mínima noção de moda/estilo, mas gostava de roupa. Sempre tive interesse por roupas e como me faziam sentir. É inato, pois na altura não tinha nenhuma influência (morava numa aldeia pequena e a minha mãe nunca quis saber se a saia combinava com a blusa).
Das primeiras coisas que me lembro e que, ainda hoje, recordo com alegria (e nostalgia) - um casaco azul forte de pelo e umas sapatilhas de ganga que a sola tinha o formato de um carro. Não consigo explicar a adoração que eu tinha por estas peças em particular,mas era um amor louco!
Mais tarde, foi a saia da lambada... uma saia azul, cheia de folhos que eu passava a vida a rodar.



Entretanto, uma namorada do meu irmão que, por sinal, também se chama Sandra, levou-me a uma loja de roupas em S.João da Madeira e comprou-me uma série de roupas lindas e coloridas. Entre elas havia uma capa de chuva amarela que foi, imediatamente, para o conjunto dos meus grandes amores. Essa loja era a United Colors of Benetton.
A Sandra não ficou com o meu irmão, mas deixou uma marca na minha vida. Hoje somos amigas no Facebook :)
À medida que fui crescendo, fui começando a ganhar o meu próprio gosto.
Enquanto isso, chegou a TV por satélite e eu ia vendo nos videoclips da MTV (na altura era um canal top de música, nada do que é agora) os modelitos das cantoras. Lembro-me de ter ficado vidrada nos vestidos prateados das En Vogue no videoclip "My lovin' you're never gonna get it". Para mim era algo tão distante da minha realidade, mas fiquei fascinada e feliz por perceber que havia todo um mundo diferente algures por aí à minha espera.


Este videoclip foi como que a minha metamorfose em termos de estilo e moda, em que ela se tornou no meu maior interesse.
Comecei a prestar atenção ás montras e às marcas das lojas de roupa aqui da terrinha e comecei a gastar o dinheiro que a minha mãe me dava em revistas de moda. Havia uma que eu comprava religiosamente, acho que se chamava "Top Model" ou "Supermodel" (não me lembro) em que as capas eram protagonizadas pelas maiores Tops do mundo até hoje: Claudia Schiffer, Cindy Crawford, Christy Turlington, Naomi Campbell, Elle McPerson...
O meu amor pela moda foi crescendo à medida que encontrava roupas novas e diferentes do que as minhas coleguinhas usavam - Umas calças de ganga à boca de sino da Ice (que usei até rasgarem todas), umas Levi's 501 pretas que os bolsos descaíam pelo rabo, umas calças da Guess padrão cobra, uma camisa azul de veludo.



Hoje tenho 39 anos e continuo viciada em moda e no que ela me faz sentir. Infelizmente, também continuo a não ter dinheiro para as "verdadeiras" peças de roupa que são como obras de arte. Vou-me deliciando com as páginas da Vogue e o Instagram dos meus designers favoritos, enquanto compro a maioria das minhas roupas na Zara, na Mango e, ultimamente, em lojas em segunda mão (onde encontro as mais desejadas peças diferentes do que se vê na fast fashion).
Obviamente que aqueles vestidos prateados continuaram a pairar o meu subconsciente e, há uns anos largos, encontrei um top desse material que usei numa passagem de ano na Estação da Luz. Porque me lembro disso? Porque fui barrada na entrada pelo detector de metais :)



A moda é a esperança de algo novo e excitante que vai além do vestir, do querer uma peça tendência ou um "must-have". Cada estação é um novo começo, cheio de cor, materiais, optimismo e banda sonora. E é isso que acontece quando me visto. Independentemente de ser algo a estrear ou roupas já antigas, é a oportunidade de uma descoberta diária, do romper de uma rotina entediante.
A moda lembra-me que, por muito bom que tenha sido o ontem, é absolutamente necessário abrir espaço para o amanhã- no meu armário e, mais importante, na minha mente e na minha vida. Só assim criamos novas histórias e memórias.
Sempre que me sinto em baixo e desesperançada, busco o conforto que preciso numa roupa nova ou nuns sapatos. O acto de me arranjar dá-me a força que preciso para seguir em frente. Fornece-me o material necessário para novos objectivos, sonhos e fantasias. Cada manhã é uma nova oportunidade de recomeçar.
Se alguma vez me virem desleixada com a minha imagem, preocupem-se, a coisa é grave!!!



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