Coisas que nunca me disseram sobre estar grávida




Os livros e panfletos sobre a maternidade, assim como as outras mulheres, transmitem a ideia de que é uma experiência feliz. As imagens de bebés sorridentes e mães radiantes, perfeitamente penteadas e com um ar saudável, podem induzir em erro. A verdade é que a gente depara-se com inúmeras "surpresas" para as quais não estamos mentalmente preparadas e, só agora, é que começam a ser devidamente documentadas.
Crucifiquem-me à vontade, que caiam em cima de mim todas as "mãezillas", mas não gosto de estar grávida e conto os dias para terminar!
Descobri que estava grávida no dia 2 de Janeiro e desde então, tem sido um tormento. Choca-me e preocupa-me seriamente, a falta de educação, apoio e diálogo acerca do que é estar grávida. Só porque nascemos mulheres e com a capacidade de procriar, não quer dizer que estejamos naturalmente preparadas para estarmos grávidas e, por conseguinte, conseguimos lidar com tudo o que a experiência acarreta. Talvez o maior obstáculo seja cultural, pois a nossa sociedade ainda trata a questão com um certo distanciamento. Na maioria dos casos corre tudo bem: a família, os amigos e até a comunidade mimam a grávida. O bebé nasce, a mãe gere o pós-parto da melhor forma que sabe e pode e a vida continua. Contudo, não é bem assim. Esta é a minha experiência nas minhas 22 semanas de gestação:

Completa ignorância sobre tudo
Faz-se o teste de gravidez, ele dá positivo e depois? Depois, parece que andamos neste mundo por ver andar os outros. Orientação sobre os passos a tomar nos próximos 9 meses, de maneira prática e sem floreados ou a tentar vender "o peixe" é zero.
Dizem-nos que nos primeiros 3 meses temos grandes probabilidades de abortar. Eu quase abortei. Dirigi-me ao hospital onde, tranquilamente, me disseram: " Se tiver de abortar, aborta." A sério? Que rigor médico e que sensibilidade!
O que não me disseram é que é assim a gravidez toda e nem sequer existem causas possíveis.
Conclusão: estar grávida é estar em permanente preocupação.

Total perda de controlo sobre o nosso corpo
A gravidez, para mim, tem sido com tudo incluído: enjoos, insónias, tonturas, dores monumentais nas mamas, sabor horrível na boca, azia, dores lombares, diarreia, nariz entupido, muito calor seguido de muito frio, transpiro que me um trolha nas obras, falta de ar, muito cansaço.... sei lá. Todos os dias é um sintoma novo. E não, não é só de manhã, nem nos primeiros 3 meses.
Tenho um dia ou outro tranquilo, o resto é sofrimento. Já vos disse que até o meu próprio cheiro é terrível? Juro. Eu cheiro mesmo mal. E não há banho que me liberte deste odor nauseabundo.

O cabelo e a pele
Dizem-nos que ficamos radiantes na gravidez, o cabelo fica lindo e a pele maravilhosa. Eu era assim antes de ficar grávida. Agora, o meu cabelo parece uma vassoura velha e cai-me em quantidades industriais, já a pele parece uma fritadeira com óleo queimado e fabrica borbulhas. Outra coisa espectacular é a ascenção do duplo queixo - rosto e pescoço são um só!

Desenvolvimento da gravidez
Acho piada quando me dizem: "Aproveita, que passa rápido!" Ai sim? Para mim está a ser tão longo. Todos os dias são insólitos. Acordo e penso - o que será que vai acontecer hoje? Como vai estar o meu estado de espírito? O que será que o meu marido pensa de mim? Será que a minha relação vai sobreviver a isto? Será que o meu bebé está bem? Será que hoje consigo fazer alguma coisa ou vou ter de passar o dia deitada? Xiiii, pareço a popota! Sinto-me tão sozinha....
Até agora estou para perceber o que é pior: se as mudanças no corpo ou o peso emocional de tudo isto.

Ser acompanhada por um bom obstetra é essencial
É, mesmo, muito importante ser acompanhada por um médico que, além de ser médico, é uma pessoa com empatia pelos outros. Há médicos que se estão a cagar para nós e só estão ali no seu horário, depois disso, estás por tua conta e risco. É crucial ter um médico que esteja disponível para nós sempre que alguma coisa acontece. E acreditem, vai acontecer.
Ser seguida no privado é milhentas vezes melhor que no público. Não há comparação. Tanto em termos de tratamento pessoal como em relação à quantidade de exames que nos são propostos fazer durante a gestação, para despiste de doenças no feto.
No serviço público tratam-nos como se fôssemos coisas insignificantes, no privado tratam-nos com a dignidade que merecemos. Todas as mulheres deviam ter o direito a um tratamento digno. Nesse ponto, sinto-me privilegiada.

Falta de informação
Sabiam que, depois do parto, sangramos durante seis semanas?
Confesso, esta informação deixou-me em estado de choque!
Além de termos de lidar com um novo ser na nossa vida, com todas as suas carências e necessidades, ainda temos de lidar com uma constante "cena do crime" lá em baixo? Durante seis semanas? Como assim? Fora a quantidade de complicações pós-parto que podem acontecer... Misericórdia.

Lavagem cerebral
Juro pelas alminhas que já não aguento a conversa das enfermeiras nas consultas de planeamento familiar. Ele é ter de usar cinta, meias de descanso, soutien de amamentação sem aros ( amamentação? Sem aros? ), o creme X ou Y, passar creme regenerador de mamilos durante a gravidez... Para quê? Por favor. Eu nem sequer sei se vou amamentar!
Acho bem informar sobre as opções, mas não acho normal quererem impor-nos as merdas como se fosse obrigação. O corpo é meu, as escolhas também. Parem lá com isso.

Enxoval do bebé
É mesmo preciso tanta tralha? Estou a pensar que tenho de mudar de casa, para conseguir acolher esta criatura tão espaçosa. Irra!

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