O "Sótor"






Olá,
Vou aproveitar este bocadinho de espaço que me é dado para vos contar uma história...
 Na minha vida profissional é natural e até expectável que, volta e meia, tenha reuniões com outros seres. Uma vez e já após marcação, chego à empresa e sigo os procedimentos habituais interpelando a recepcionista ; "-Boa tarde, tenho uma reunião com o Sr. Alfredo!" A senhora faz uma cara de pânico que estranhei. "-Sr. Alfredo? Não trabalha cá nenhum Sr. Alfredo!" Nesse momento é em mim que o pânico se instala. "Mas eu marquei uma reunião com o Sr.Alfredo do aprovisionamento, na semana passada!" A senhora faz a mesma expressão que alguém faz quando resolve o cubo de rubick -"Ahhhh, o Eng. Silva?! Só um momento que eu vou chamar!" Nesse instante o meu cérebro começa num loop, a tentar perceber se a senhora é estúpida, ignorante, limitada ou tudo isso ao mesmo tempo.
 Entretanto, aparece o dito cujo, estendendo-me a mão para se apresentar - "Boa tarde, Eng. Silva, prazer!". E aqui, todo o meu sistema nervoso desliga os filtros e entra em modo sarcasmo agressivo -"Boa tarde, Ricardo. Prazer, Eng.! É engenheiro da parte da mãe ou da parte do pai?"  Sorriu algo desconfortável com a observação e lá disse para o tratar por Alfredo. Não tinha outro remédio, não trato ninguém pelo título com excepção feita aos médicos. Não, nem advogados. Com esses é preferível não ter de falar, tão pouco.
    
Esta "nossa" forma tão provinciana de colocar num pedestal e de tratar de forma diferenciada a quem atrás do nome tem um prefixo, como se um saco de testículos andasse sempre agarrado ao nome, é próprio de mentes tacanhas e fechadas. E nisto todos temos um bocadinho de culpa. Os que tratam terceiros pelo título e os próprios que não conseguem rasgar as convenções sociais dizendo -  “por amor de Deus, chame-me Alfredo"- a não ser o Alfredo da história porque se sentiu ameaçado. No fundo, muito provavelmente toda esta questão do sistema de títulos excessivos pode ser resumida por uma falta de auto estima e da necessidade de se ser respeitado publicamente, como se isso dependesse de um mero título universitário.

Portanto e resumindo, vamos todos sossegar um pouquinho e acalmar o pipi, ok?
 Querem um país mais justo e evoluído? Façam como eu, tratem todos por tu!
 Vamos começar a quebrar as fronteiras invisíveis, porque no fundo somos todos iguais. Quando digo todos, quero dizer… quase todos. Eu sou um bocadinho melhor :p


Cumprimentos,
Sr. Prof. Dr. Eng. Ricardo DE Pinho




Ps. As personagens desta história usam nomes fictícios. Como toda a gente sabe, o nome Alfredo está proibido.

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