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Desculpa filha, mas vou ser uma péssima mãe!




Nunca quis ter filhos, principalmente pelo meu receio de falhar como mãe. Agora vou ser mãe e, para mais, de uma rapariga!
Francamente, tenho a ideia que os pais trabalham muito pouco a criar aspectos positivos nas personalidades dos filhos.
Eu e o meu irmão, fomos criados exactamente da mesma forma e, no entanto, não podíamos ser mais diferentes. Isto não é para dizer que não se pode estragar uma criança tornando-a numa parvinha, pois as crianças são esponjinhas e imitam todos os nossos piores comportamentos, nos momentos mais inoportunos. Mas também há personalidades próprias... Acredito que as qualidades positivas delas surgem menos daquilo que fazemos para que se tornem pessoas fantásticas e mais por deixarmos sair todos os aspectos aleatórios com os quais nasceram e lhes são inerentes (o que para mim é o que as torna fantásticas).
Não vou ser aquela mãe que tem a filha inscrita em 300 actividades extracurriculares e aulas privadas. Desculpem. E desculpa filha por não querer fazer de ti um macaco amestrado para mostrar à sociedade as tuas habilidades, nem tão pouco, concorrer com as outras mães. Não tenho paciência para ser uma daquelas mães sentadinhas nas bancadas de ginásios ou salas de espera dos estúdios de dança, a fazer conversa da treta com outras mães, que parecem já se conhecerem todas e que se odeiam secretamente. Sou aquela que está constantemente a dizer coisas inapropriadas como: " Pensava que isto era só para se divertirem!!!" Não consigo conceber ser uma mãe super envolvida que grita com treinadores, instrutores ou crianças que não param de chorar porque, na verdade, a única coisa que querem é um gelado. Eu também só quero um gelado e um bocado de paz.
Não possuo interesse em estar sempre a ouvir falar dos outros e em como conseguem rodopiar paus, enquanto recitam poesia em mandarim. Estou-me nas tintas.
Tenho a certeza, minha filha, que não vai ser por isso que vais acabar perneta, na sarjeta como sem-abrigo ou transformada em capacho de um Chico esperto qualquer. Eu não tive nada disso e sobrevivi. Aliás, tive uma infância feliz. Quantas crianças poderão dizer isso quando crescerem? Nem têm tempo de brincar.
Desculpa também por querer continuar a ter tempo para mim, sem viver obcecada contigo. Acho o meu tempo igualmente importante e quero que aprendas isso. Desejo, do fundo do coração, que sejas tu mesma e não um protótipo de uma sociedade maioritariamente ridícula e entediante.
Não te vou aplaudir por tudo o que fazes pois, a maior parte das vezes, não farás mais que a tua obrigação como ser humano.
 Parece que agora metemos na cabeça das crianças que têm de ser vencedoras em tudo e, coitadinhas, ainda ficam traumatizadas quando não são capazes, pois percebem a quantidade de investimento emocional que depositamos nas suas competências para derrotar as outras crianças. É melhor levá-la já a um psicólogo!
Não te adianta estares a dar-me socos na barriga, pois não retiro nada do que disse. Só te posso garantir uma coisa - vou fazer tudo para que sejas uma criança feliz e saudável e que te tornes numa mulher digna e com carácter.

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2 comentários

  1. Que texto bonito :) nunca quis ser mãe... até hoje nunca tive vontade. Nunca brinquei com bebés de boneco... não sei se um dia vou ter essa vontade. Já tenho 27 anos e até agora nada xD

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    1. Eu também não e fui mãe aos 38 anos ;) Cada coisa a seu tempo. Beijinhos

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