Mum Guilt
Já passou um ano depois de ter sido mãe. Há um ano que toda a minha vida mudou e deixei de ser a Sandra, para ser a mãe da Bárbara.
Os primeiros meses de vida da Bárbara, vivi-os todos para ela e, agora, também (tirando o horário de trabalho).
Na altura que voltei ao trabalho, foi como se tivesse deixado um bocado de mim para trás. É desumano ter de deixar um ser tão pequenino aos cuidados de outras pessoas. Sim, nós mães, achamos que só nós é que sabemos cuidar da nossa cria. Achamos e queremos, pois está ali o nosso bem mais precioso da vida. Mas a malta tem de trabalhar!
Aos poucos deixei de ser eu. Deixei projectos de lado, deixei de ir a muitos lugares e deixei de conseguir escrever aqui no blog. Deixei de fazer o que queria, à hora que queria e deixei-me de lado. Mas sou recompensada sempre que ela sorri. Não há nada que pague o sorriso da minha filha. Mas a malta tem de trabalhar!
O problema é que não tenho tempo. Não vejo a minha filha a crescer. Muitas vezes dou por mim a olhar para ela e a pensar: "como ela já cresceu e eu nem me apercebi."
Não me parece que, trabalhando das 9h às 18h30m, se consiga ter tempo de qualidade com os filhos. De manhã é uma luta para conseguir sair de casa a horas (o que raramente acontece) e à noite é outra luta para fazer as tarefas diárias. Quando é que estou com a minha filha? A olhar para ela a dormir...
Isto deixa-me triste. E frustrada. E cansada. E, muitas vezes, sem paciência para ela.
Querem fazer de nós super mulheres, no entanto somos só pessoas normais e exaustas.
Sempre que ouço alguém a falar da maternidade, é tudo mágico e florido. Mulheres que têm tudo sob controlo e ainda têm tempo para criticar as outras, enquanto eu nem o meu cabelo consigo controlar.
Nos dias que correm, a mãe tem de ser boa em tudo - boa mãe, boa mulher, boa amiga, boa profissional - magra, gira, inteligente e por aí fora.
Já me questionei, vezes sem conta, se serei só eu a achar que ser mãe está longe de ser assim tão mágico e florido? Será que a minha vida está assim tão errada? Será assim tão errado eu querer fazer e conversar sobre outras coisas que não a quantidade de dentes que a Bárbara já tem, se dorme a noite toda, quantas vezes faz cocó por dia ou quantas palavras já diz? Será assim tão errado eu querer recuperar alguma coisa da Sandra antes de ser mãe? De querer um bocado de paz para tomar um banho, fazer uma refeição sem interrupções, ler um livro?
Eu sou a mãe da Bárbara e serei para o resto dos meus dias com todo o orgulho e felicidade adjacente, vou dar-lhe sempre colo, amor e tudo o que ela precise para ser uma criança saudável e feliz, mas estou exausta.
Agradeço a Deus pela filha fantástica que me deu, ela é tudo o que eu sempre sonhei, mas estou exausta.
Ser mãe é muito difícil (além de mágico e florido), mas mais difícil é lidar com a sociedade sem perder a cabeça. Afinal de contas, as opiniões de treta começam ainda na gravidez. Se dou colo, é porque a habituo mal; se não dou colo é porque sou fria; se dou uma sapatada na fralda é porque sou agressiva; se não dou, não lhe dou educação. E isto é só um exemplo.
Cheguei ao ponto de me sentir culpada por ter ido pôr combustível e tê-la deixado dentro do carro enquanto fui pagar. Chamem já a Segurança Social.
Assiste-se a uma pressão tão irreal para se corresponder a um ideal: acha-se que a mulher tem de ser um ser quase sobre-humano.
Sentir culpa o tempo todo tornou-se um hábito. Ser mulher passou a ser um cargo cheio de responsabilidades e exigências, obrigações, requisitos e condições (já o homem não tem responsabilidade nenhuma nesta gestão, é homem). Um cargo tão pesado que é quase impossível suportar. Mas suporta-se. Umas vezes melhor, outras pior.
Educar dá trabalho. Muito trabalho. A última coisa que precisamos é de dedos apontados.
Cada criança é diferente, assim como cada mãe o é também e cada um sabe da sua vida e da maneira como acha que deve criar o seu filho. Isto não é uma competição. No fim, ninguém leva a taça!
1 comentários
Não existe certo ou errado ! Existe o que é melhor para mim. Que é diferente do que diferente para ti. Tens o dom da palavra . Gosto sempre de ler o que vai na alma. Beijinho
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